Hoje
aqui venho receber a minha segunda cidadania
Joinvillense: a cidadania honorária,
pela qual muito lhes agradeço, feliz
e comovida.
A
primeira, a cidadania de fato, há muito
já é parte de cada um dos meus
dias, no bem-querer pela cidade que escolhi
para ser a minha terra, na qual eu teria a minha
família, exerceria meu trabalho e onde
fui presenteada com tantos e tão bons
amigos.
Esta
cidadania integra-se à pessoa que sou:
eu a construí, e também ela me
construiu, ao longo dos anos.
Assim, muito antes que
o povo de Joinville, representado em toda sua
grandeza e generosidade pela Câmara de
Vereadores, formalmente me acolhesse como um
dos seus cidadãos, eu já o era
- por opção, por gratidão,
por amor.
Mas fui cidadã,
primeiro, da pequena Nova Veneza, que se faz
imensa na minha lembrança. Lá
aprendi, com pessoas simples e honradas, a trabalhar,
a acreditar na vida, em mim mesma e no meu semelhante.
Sou filha de um pequeno
comerciante e de uma professora primária
pelos quais sempre tive, e terei, um misto de
orgulho e carinho. De meus pais, meus irmãos,
recebi não só o afeto e o reconhecimento,
mas o estímulo e o apoio incansáveis.
E a Professora de quem
sou filha ensinou-me coisas que se provaram
indispensáveis, vida afora - como buscar
meus objetivos. Ensinou-me a ler e a escrever;
ensinou-me o amor ao estudo e à disciplina:
o começo de toda conquista. Ensinou-me
a preservar a humildade e a praticar a solidariedade,
que são a base do respeito e do amor
pelo Semelhante. Ensinou-me a ter a coragem
das minhas convicções, e a lutar
por elas.
Por isso tudo, e por muito
mais, por sentimentos que vão além
das palavras, obrigada, Hilda Becker Coral,
mulher admirável, dos seres humanos mais
verticais que me foi dado conhecer. Obrigada,
minha Professora, minha Amiga, minha Mãe,
por ter-me ensinado e autorizado a sonhar.
O objetivo de prosseguir
os estudos levou-me ao Internato, no Colégio
São José da Divina Providência,
em Tubarão. Foi um privilégio
para mim; pois lá, naquele ambiente de
ética, fraternidade e ensino, meus princípios
foram consolidados e minha educação
aprimorada. Aprendi a acreditar e a persistir.
No meu caso, acreditar
significava a certeza de que a vida nos oferece
oportunidades; que é preciso estar atento
e lutar por elas: uma bolsa de estudos; uma
faculdade pública; um colega que compartilha
seus livros; a condição de poder
trabalhar; a possibilidade de ajudar e de ser
ajudado; de ter amigos e de ser
amigo; de aprender e de repartir o que se aprendeu.
Acreditar é gesto
de agradecimento à vida pelas oportunidades
que ela nos propicia e pelos obstáculos
que ela nos obriga a transpor, tornando-nos
mais fortes.
Persistir significava
estudar. Não importava a dificuldade
- dificuldades servem para tornar os desafios
mais estimulantes, mais merecedores do nosso
esforço e da nossa determinação.
Levando comigo essas convicções,
cheguei a Florianópolis para cumprir
a promessa que fizera a mim mesma à luz
das velas da infância: Eu vou ser médica.
Não era um sonho de realização
fácil, mas os sonhos não têm
que ser fáceis:
Devemos ser gratos pelo simples fato de tê-los
e neles acreditar - e persistir.
No primeiro ano em
Florianópolis, conheci o Emir, que viria
a ser meu marido, colega médico, meu
maior amigo, companheiro de uma vida. Firme
feito um cedro do Líbano, mas flexível,
para entender minhas necessidades e me apoiar
em minhas dificuldades. Porto de abrigo, meu
refúgio, meu ponto de equilíbrio
e minha paz. Se por mais nada a existência
tivesse valido a pena, só por ti e por
nossos filhos, Emir, já teria valido.
Com ele conheci sua cidade
- Joinville -, e sua preciosa família.
Conheci o Dr. Sadalla Amin Ghanem que atravessara
o oceano para aqui vir plantar a semente de
seu próprio sonho. Quis o destino que
meu sonho viesse ao encontro dos de Emir, para
que, juntos, pudéssemos materializar
o sonho do Sadalla - O Hospital de Olhos que
merecidamente leva seu nome.
Impusemo-nos, Emir e eu,
a missão de fazer crescer a semente por
ele plantada, de fazer dela uma realização
à altura daquele que foi cidadão
benemérito de Joinville, e cuja memória
reverenciamos. A inspirar-nos nesta tarefa,
tínhamos o exemplo e as palavras do Doutor
Sadalla:
"Viver é desintegrar-se, é
deixar pedaços de si mesmo nas almas
e nas paisagens; um perpétuo escoar de
si, um dar constante, para receber sua contrapartida
na moeda comovida das memórias".
Mas também tivemos
- felizmente -, neste propósito de consolidar
o Hospital Sadalla Amin Ghanem, a competência
dos colegas Médicos e a dedicação
dos Colaboradores. O longo, por vezes penoso,
mas sempre incansável e entusiasmado
trabalho de equipe, fez com que conseguíssemos
estabelecer na nossa Joinville um centro Médico
que hoje é referência nacional
em Oftalmologia. Um Hospital à altura
da sua cidade, à altura do seu fundador.
A tarefa prossegue por
meio de uma equipe coesa, da mais alta competência
e dedicação. No espaço
de meu coração, ela prossegue,
sobretudo, através de dois Oftalmologistas
que já têm a cidadania joinvillense.
Prossegue através de meus Colegas, meus
amigos, meus meninos, meus amados filhos - Vinicius
e Ramon.
Nosso trabalho comunitário,
voluntário, é a forma de dizer
muito obrigada a uma gente amiga, generosa a
ponto de conceder-me a elevada honraria que
hoje recebo.
Tenho a clara percepção
de que a cidadania honorária com que
sou distinguida representa um grande privilégio.
Tenho a nítida consciência de que
aos direitos correspondem obrigações,
sentimento compartilhado pelos nossos colegas
de equipe, daí o envolvimento já
histórico do nosso hospital em campanhas
de prevenção à cegueira.
Fazemos isto para afirmar
que todos somos responsáveis pela comunidade
a que pertencemos. É uma forma de retribuir
ao nosso País a confiança em nós
depositada.
Nosso trabalho prosseguirá.
Quero compartilhar o que
aprendi, estudar mais, sempre, para mais ter
a compartilhar.
Quero seguir, dedicando
parte do meu tempo ao trabalho cuja remuneração
é a satisfação de servir.
Quero honrar a comunidade
que tanto me honra.
Fico muitíssimo
agradecida à Vereadora Eliete Steingraber,
que propôs a distinção que
hoje recebo, e aos ilustres Vereadores que a
aprovaram por unanimidade.
Obrigada a todos os presentes
pelo seu tempo e sua atenção,
por virem repartir comigo e com minha família
a alegria deste momento.
De modo muito especial,
obrigada a todos os amigos que vieram para trazer-me
seu abraço, gesto tão importante
para mim.
Obrigada ao Dr. Luiz Henrique
da Silveira, que alterou sua agenda para aqui
estar, não apenas na condição
de nosso Governador, mas na de um querido amigo.
Vale o mesmo para o Dr.
Genésio Spiellere, Prefeito de Nova Veneza,
que pelo abraço fraterno recebo o afeto
dos meus conterrâneos.
Muito obrigada ao Professor
Dr. Elizabeto Ribeiro Gonçalves, Presidente
do Conselho Brasileiro de Oftalmologia - CBO,
e do Professor Dr. Nicomedes Ferreira Filho,
Presidente da Sociedade Brasileira de Lentes
de Contato, Córnea e Refratometria -
SOBLEC. Por sua presença, recebo, comovida,
a estima dos meus colegas Oftalmologistas, que
eles muito honrosamente representam.
Agradeço à
Equipe do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem
pela sua colaboração generosa,
sem a qual nosso trabalho comunitário
não teria o alcance que teve, e terá.
In memoriam, agradeço
ao Doutor Sadalla Amin Ghanem, pelo imenso legado
que nos deixou como ser humano, como profissional,
como cidadão; por ter-nos ensinado que
viver é fragmentar-se.
Obrigada mais uma vez
Emir. Obrigada Vinicius e Ramon: que vocês,
cidadãos Joinvillenses, continuem a obra
que seu avô e seus pais construíram.
Muito Obrigada.
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